Eu fiquei muito feliz ao ser escolhida oradora da turma. Posso dizer que apesar de todo o nervosismo, é uma honra poder representá-la. Porém, de imediato vieram algumas preocupações: escrever o que? Devo ser breve? Como é possível falar de tudo em algumas palavras? Descobri que não é possível. Mas até chegar a essa conclusão, foram-se várias reescritas, angústias... E foi saindo isso aqui...
Dois de fevereiro de 2011: não era eleição para presidente nem final de copa do mundo. Também não foi nosso primeiro dia de aula de toda a vida, mas foi o primeiro dia de aula que mudaria nossa vida para sempre. Bem vindo ao terceiro ano!
O clima festivo, embora preocupado, da nossa estreia na reta final do ensino médio, logo deu vez à ansiedade e a uma certa falta de afinidade entre duas turmas que se juntaram. O que antes eram “A” e “B”, seriam “apenas” a turma de 2011 do Colégio Villa Lobos.
Nesse ano, tudo aconteceu com maior velocidade e maior intensidade. Não estávamos muito a par das novidades da escola como nos outros anos. Na maioria das vezes, tudo se resumia à nossa sala e, de tão intenso o ritmo, uma simples prova parecia vestibular, tamanho desespero para com os resultados. Um feriado era um alívio! Respirar um pouco depois de tanta agonia. Mas cada segundo valeu a pena. Afinal, quem é que não vai se lembrar das comemorações das aulas vagas, das rodas de música e das brincadeiras que fazíamos só para descontrair aquela maratona de conteúdo?
Não dá para esquecer. Ainda mais acompanhados por tantas figuras: Afonso... Fatal! Alessandra, aquele bebê esticado; Alexia, que surpreendeu a todos no Canta Villa... Aliás, por falar em música, Jorge, meu querido, qual é o instrumento musical que você não sabe tocar?
Pablo, além dos cílios enormes invejados por qualquer garota dependente de curvex, é malhado, assim como bochecha, que poderia ser facilmente chamado de “Alexandre, o Grande”.
Como não admirar a amizade de Andressa e Rafael Daltro, e a delicadeza de bailarina de Bruna Monteiro? E as vozes que calam a sala: Daniela, sempre firme, e Rayane, sempre doce. Contudo, se elas fazem o silêncio, tem uma que sempre tumultua com suas intervenções, não é, Taís Alencar? Mas então aparece Letícia para chamar atenção de que aquilo ainda é uma sala de aula.
Foi assim o ano todo: Larissa desenhando vestidos, David Jones desenhando mangás; Fábio resolvendo problemas de computador, Gutembergue dando carona; Marília batendo um bolão, Jaqueline fazendo hipismo; Lis tímida, Gislene tagarela; Suélem “revolts” e Roberta que virou Rob que virou “Robson”. Apelido.
Ricardo conversador e Flávio desligado pareciam um casal de tão unidos. Matheus boca correu atrás de Karine organizada, e ao não ser correspondido, partiu para a conquista de Bruna Amaral, vulgo “oxi”.
Joana Hughes e suas caras e bocas na aula de matemática, Mariana embolada no sotaque mineiro que hoje já compreende um “oxente uai!”
Rafael Moraes e sua cara de pau, Priscila com sua risada e espirro, no mínimo, exóticos; Morgana envergonhada, e Lucca, com suas cantorias inconvenientes, arranca suspiros das meninas mais novas.
Tem de tudo nessa sala, desde alunos daqui de perto, como Mayra, de Madre de Deus e Wyktor, o comunista de Serrinha, até presenças estrangeiras, como Felipe França, Hassan, árabe, Kim coreano, chinês, japonês... E Yan, que depois de uma temporada tranqüila na Dinamarca parou nessa loucura.
Mas a sala é grande, tem espaço para Thaís Andrade, apaixonada por história, João, louco por gramática e Gustavo pelas ciências exatas.
Tem Felipe Sabóia, o índio metaleiro; Tem Guilherme... Quem? Ah! Tchutcho, aquele que não tira o casaco nunca. Só hoje.
Thamirez, aparentemente tão quietinha se manifesta nas redes sociais.
Tem Clara, que carrega mais comida do que livros na bolsa; Chiara maluca e Cibele ansiosa deixaram de lado as personalidades extremas e se juntaram para organizar a nossa festa de formatura. E eu, Juana Castro, registro tudo isso.
Mas não foi fácil, para ninguém, conciliar tantas coisas: administrar juventude, responsabilidade, impulsos, amores, festas, compromissos... Então vieram as noites sem dormir, as enormes olheiras, o cansaço, o medo. Quem não teve medo de decepcionar e de se decepcionar? Quem não apelou para uns calmantes ou até arrancou uns próprios fios de cabelo? Outros não aguentaram a pressão e nos deixaram.
Haja pânico! E, nessas horas, nada melhor que um ombro amigo ou um colo de mãe. Entretanto, as amizades pareciam serem testadas a todo momento. Não só as do próprio colégio, mas principalmente as de fora, que tentaram se apertar na nossa louca rotina. Assim como a família, que se sacrificou tanto para que chegássemos aqui nas melhores condições possíveis, mas ao nos ver desesperados, fazia coro com professores e diretores no tão chato e perturbador “eu avisei”. Sim, avisaram e obrigada por avisarem. Todavia, não importa o quanto nos alertem, pois essa é uma experiência única e diferente para cada um, e só aprendemos de verdade a partir do momento em que nos deparamos com a situação.
A correria normal de terceiro ano e a nossa heterogeneidade renderam críticas que pareciam intermináveis (e até um mapa de sala especial). Demos trabalho, abusamos da paciência dos professores. Sabemos disso. Mas sabemos também que além de aprendermos com a fome por aulas de Abud, a seriedade de Rodolfo, as brincadeiras de Dudu, a incrível objetividade ao ensinar história de Garrido, a praticidade de Yomar, a empolgação de Thomás, o vocabulário de Léo Mendes, a simplicidade de Elói, o detalhismo de Evert, a organização de Márcio, a interpretação de Dora, a vontade de Midian, a riqueza, quer dizer, a crítica de Gilton e os apitos ensurdecedores de Ricardo... Enfim, além de aprendermos tanto com eles, pudemos ensiná-los algo: como conviver com tanta diferença.
Perante a isso, agradecemos aos mestres e à Karla, sempre ouvinte e conselheira, por tanta dedicação e preocupação conosco. Agradecemos às direções pelas quais passamos, em outros anos, e à direção geral da escola, composta por Rubens, Isabela, Manuela e Dona Lúcia. À central de comunicação e também aos funcionários que fizemos questão de enlouquecer ao pedir para mudar a temperatura do ar condicionado ou corrigir o gabarito, e tantos outros, do nível um ao cinco. À secretaria competentíssima, muito obrigados.
Tudo o que passamos, desde o nosso ingresso na escola, até hoje, foi válido e gratificante. Porém, se antes dizíamos “quero que passe logo”, hoje, duvido que alguém diria isso, mas diria “passou voando!”. O tempo passou, amigos foram e vieram. Paixões também. Passou o mundo enquanto passávamos aos poucos. Nada volta mais.
Agora é cada um por si, com seus poucos dezessete, dezoito (ou até dezesseis) anos, escolhendo os rumos de suas vidas. E por mais que possa parecer injusta a escolha precoce, chegou a hora de dizer “adeus” a esse mundo e trilharmos nossos próprios caminhos. Isso não significa abandonar amigos, pois o que é verdadeiro permanece.
Aprendemos, ensinamos, compartilhamos, discutimos e fomos mapeados. Contudo, entre altos e baixos, foi a nossa turma, nosso momento e nosso terceirão, e é disso que vamos lembrar no futuro. Futuro o qual não sabemos como será, mas que cada um de nós possa, hoje e sempre, lembrar com saudosismo disso que viveu, erguer a cabeça e dizer “CRESCI”.