O texto abaixo eu fiz no 1º ano do E.M., em 2009, aos 14 anos. Era pra fazer algo inspirado em outro texto, e eu me inspirei na crônica "A outra noite", de Rubem Braga. Quem ler vai pensar que é maluquice (e deve ser mesmo) porque parece não ter nada a ver com o texto fonte. Quando fiz pensei no nome, apenas: outra noite, outro céu... E me deixei levar.
O Céu Errado
O Céu Errado
“Tchau amor. A gente se vê às oito?” Eu perguntei.
“Claro que sim. Tchau... Eu te amo!” Foram as últimas palavras que escutei ele dizer antes de aquele motorista desgovernado quase ter conseguido tirar Hugo de mim. Minutos depois, estava apreensiva no hospital, esperando uma resposta. O médico, alto, pálido e magrelo, caminhou em minha direção:
-Ele precisará de um coração novo.
Eu e Hugo nos conhecemos há cinco anos, ele comprou algumas roupas na loja que eu trabalhava temporariamente. Minha vida era sem sentido, estava amargurada por ainda não ter conseguido abrir meu escritório de advocacia. Passava o dia todo naquela lojinha de pouco movimento, esperando o tempo passar para esperá-lo passar novamente. Quando Hugo bateu à porta, soube imediatamente que aquele homem mudaria o meu destino. Ele se interessou, trocamos telefone, e logo estávamos namorando. Parece que eu estava mesmo certa, ele mudou meu destino! Era completamente diferente de mim. Hugo era divertido, bem sucedido, de bem com a vida, ótima pessoa, e me amava assim como eu o amava. Passávamos horas divertidíssimas juntos, outras nem tanto, mas tudo era superado com o tempo.
Certa vez, eu viajei e ele não pode ir junto. Mas quando cheguei ao hotel, advinha quem estava me esperando? Ele. Até hoje não sei como chegou tão rápido! Deve ter recebido muitos flashes de diversos radares. Mas esse era o diferencial do meu amor, ele sempre inovava, fazia surpresas, pra que mais, meu Deus? Esse homem era tudo! Passamos o final de semana todo em cima daquela cama, vendo os mais variados filmes misturados ao som da chuva. Os minutos, as horas e os dias passavam voando, quase que despercebidos quando ele estava comigo. E eu nem ligava de ter passado tanto!
Outra vez, em meu aniversário, já tínhamos dois anos e sete meses de namoro, ele me pediu em noivado, da maneira mais linda e mais vergonhosa (pra mim). Foi num restaurante badalado o qual íamos frequentemente. Ele subiu ao palco, pegou o microfone e cantou “Your Song”, trilha sonora do meu filme favorito Moulin Rouge. Tinha uma voz tão macia, olhos tão penetrantes, e pediu a minha mão. Como uma pessoa tão perfeita poderia ir embora tão cedo? Não podia deixar isso acontecer. Provoquei minha própria morte e, ao meu lado, um bilhete de despedida: Por favor, quero que entreguem meu coração a Hugo. Eu ficarei bem onde quer que eu esteja. PS: Avisem-no de que eu o amarei pra sempre. Alice.
Se o céu é o paraíso, e o paraíso pra mim é onde ele estiver, eu estou no céu errado. Mas não estou arrependida. Eu sei que ele irá fazer bom uso de uma parte de mim que muito antes disso tudo, já era dele.







